Wellington Moreira Lopes ¹
Em seu artigo intitulado “Concepções de Linguagem e o ensino de Língua Portuguesa” SOARES (1998) realiza uma descrição histórica do ensino de língua portuguesa apresentando os parâmetros que resultaram nas modificações das concepções de língua durante os períodos históricos e quais foram às consequências dessas alterações na sala de aula. Realizando uma breve análise do panorama histórico apresentado pela autora, temos que: o ensino se destinava exclusivamente às camadas mais privilegiadas da sociedade até a década de 50 e a função do ensino de Língua Portuguesa era fundamentalmente levar ao conhecimento as regras e normas deste dialeto (chamado “norma padrão culta”). Surge então a primeira concepção de língua defendida pela autora.
Língua como sistema: ensinar português era ensinar a conhecer/reconhecer o sistema linguístico (SOARES, 1998, p. 55).
Com a democratização do acesso à educação no início dos anos 60, surge uma nova perspectiva de escola (mais cultural, variante e popular) trazendo consigo uma nova concepção de língua, que tem como referencial a teoria da comunicação, sendo entendida como:
Instrumento de comunicação: por desenvolver e aperfeiçoar os comportamentos do aluno como emissor-codificador e como recebedor-decodificador de mensagens, pela utilização e compreensão de códigos diversos – verbais e não verbais (SOARES, 1998, p.57).
Cabe agora desenvolver no aluno capacidades de expressão e comunicação através da língua, dando ênfase nas habilidades de leitura, mas não somente literários como anteriormente, mas agora também jornalísticos, publicitários, não verbais: como charges, cartazes de publicidade, destaque também para o desenvolvimento da expressão oral.
Essa concepção começa a sofrer críticas por parte dos que defendem o ensino tradicional do português. Na verdade, a concepção de língua como instrumento de comunicação já não tinha apoio no contexto atual, nem nas novas teorias que surgiam. Pressionada pela nova necessidade de uma concepção de língua mais abrangente e conforme os tempos atuais, é adotada a ideia de:
Língua como enunciação, discurso, não apenas como comunicação, que, portanto, inclui as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais e históricas de sua utilização (SOARES, 1998, p. 59).
A língua passa a ser vista como processo de interação. No ensino esse processo se dá entre autor-texto-leitor - várias vozes que se intercalam criando uma rede de informações e conhecimentos - diante desta nova concepção o aluno passa a ser sujeito ativo do seu próprio conhecimento, da linguagem oral e escrita e de suas habilidades em interação com os outros e com a própria linguagem. O professor deixa de ser detentor do conhecimento e passa a ser facilitador do mesmo, essas concepções de língua foram fundamentais para definir os métodos e modos de ensino e norteiam até o momento didáticas de ensino-aprendizagem mais eficientes e produtivas na sala de aula.
SOARES, Magda. Concepções de linguagem e o ensino da Língua Portuguesa. In: BASTOS, Neusa Barbosa (Org.). Língua Portuguesa. História, Perspectivas, Ensino. São Paulo: EDUC, 1998. Parte I, p.53 – 60.